Capítulo 1- Goodbye Haverhill
O relógio marcava seis horas. Corri desesperadamente para o carro do meu pai, tentando ignorar as broncas pelo atraso. O funeral começava em meia hora e papai não queria se atrasar. O morto? Um tio avô dele que nunca conheci, não ia me fazer falta.
No caminho ele resolveu relembrar as peripécias do falecido, prestando uma disfarçada homenagem, que não era de meu interesse. Mamãe parecia envolvida na história, mas ela sempre se encanta por qualquer coisa vinda de meu pai. Nunca vi um casal mais apaixonado do que os dois. É bonito.
Meu pai deu uma trégua na homenagem, e o novo assunto era de meu interesse. Íamos nos mudar de cidade. Papai arranjou um novo emprego e Drew, meu irmão mais velho, havia iniciado uma carreira artística, que tinha de tudo para dar certo, mas não aqui na minha pequena cidade. O destino? LA.
No começo não gostei da ideia, mas com o tempo vi que era uma oportunidade de mudar. Confesso que com apenas 16 anos já cansei de mesmices. As mesmas pessoas, os mesmos lugares, as mesmas conversas. Mal de cidade pequena, eu acho.
Chegando no funeral vi vários parentes que não via a tempos e alguns que nunca tinha visto. Eu não tenho nenhum parente muito próximo, apenas uma tia que não gosta de nada nem de ninguém.
Fiquei do lado do Drew o tempo inteiro, enquanto meus pais faziam uma social com o resto da família. Eu e meu irmão sempre nos demos muito bem. Temos dois anos de diferença, mas conversamos por igual e ele sempre me ajuda.
Nós dois nos sentamos numas cadeiras no canto enquanto o papai conversava com pessoas que eu não sabia quem eram. Provavelmente parentes dele e do seu tio avô. De vez em quando via que ele apontava para mim e Drew, mostrando que éramos seus filhos. Mesmo assim nós continuamos ali sentados. O clima era pesado demais naquele lugar; muita gente que eu mal conhecia chorando por quem eu mal sabia quem era. Senti uma coisa estranha.
Deixei minha mente vagar enquanto observava as pessoas ao meu redor. Gosto de observar; aprendi a fazer isso lendo livros. Também gosto de ler; é tipo meu refúgio pessoal, me tira um pouco da realidade. Vi a esposa do tio avô do papai com as filhas, mas não estava chorando como a maioria das pessoas. Ela parecia não sentir nada, ou melhor, não saber o que sentir vendo décadas de amor morrendo em seus braços juntos com o marido e não poder fazer nada, tal como Marius se sentiu com Eponine. Comparação inútil com Os Miseráveis, mas talvez a vida seja assim mesmo: quanto mais você se apega a alguém, vem a vida e te separa delas. Ao contrário da mulher dele, as filhas pareciam implorar para que o pai voltasse e ficasse com elas; as vi indo a loucura, como Lestat implorando a Louis para voltar a ficar com ele.
Comparei quase todos ali com os personagens dos meus livros favoritos. Tinha uma mulher que sofria com aquela perda (pensei que talvez fosse neta dele), mas estava tentando seguir em frente, como Beth fez quando Derek morreu enquanto ela cantava para fazê-lo dormir. Mas de todas as minhas comparações a que mais me surpreendeu foi a de mim mesma. Vi-me como Susana Pevensie em A Última Batalha: eu via que todos ali estavam se sentindo mal, mas não conseguia me importar muito. Talvez porque eu nem conhecia o tio avô do meu pai.
Drew me cutucou.
— Emma, tá tudo bem?
Percebi que estava em devaneio. Balancei a cabeça.
— Sim, tá tudo bem, sim — sorri para ele.
— Ótimo — ele sorriu e se levantou. — Agora vem, porque a mamãe tá chamando.
Levantei da cadeira atrás dele e o segui.
Fomos para casa terminar de empacotar as coisas. As esperanças de um novo começo, de uma vida nova me acalmavam, mas era difícil deixar todas aquelas lembranças aqui. Olhei para meu quarto, e pensei no quanto eu sentiria saudades daquele banco na janela, que eu tanto usava para ler meus livros e pensar na vida… Achei as medidas que eu fazia na parede quando era pequena para saber se eu tinha crescido. Eu ia sentir uma imensa falta daquilo, mas estava prestes a começar a escrever novas lembranças em LA.
Vamos pegar o avião amanhã, e não dá para não ficar ansiosa. Não dormi a noite toda e, por isso, fui morrendo de sono para o aeroporto. Quando o avião decolou, dei uma última olhada para minha cidade, e dei adeus à tudo. Me senti como Bella deixando sua ensolarada cidade e indo para Forks, a cidade chuvosa que ela tanto odiava, mas que acabou sendo o lar de seu verdadeiro amor. Como uma adolescente sonhadora qualquer, eu ia embora com o sonho de que isso acontecesse comigo.
E aquela expectativa para o próximo ano? A esperança que surge no final de cada ano quando vemos as decorações anunciando o natal. A esperança de amigos novos, um amor novo, emagrecer, ir melhor na escola, típico.
Dei uma cochilada no avião e Drew me acordou hora que chegamos. Senti um frio na barriga, tudo que vivi até hoje deixei para trás.
Desembarcamos e um taxi nos esperava na porta do aeroporto. Um homem alto e magro segurava uma placa esboçando “CAMPBELL’’. Colocamos algumas malas que tinham o essencial no porta-malas e entramos no carro.
Era noite quando chegamos em LA. Pela janela embaçada do carro observava as luzes da cidade, que agora tinham mais efeito por causa das luzes de natal. Senti meus olhos esbugalhados, com o brilho do olhar de uma criança. Preciso admitir que LA era um sonho, mas não para mim.
Fazia frio e mamãe nos disse que havia casacos na mala embaixo dos meus pés. Não era um frio insuportável, era um típico frio de fim de ano.
Papai conversava com o taxista. Percebi que ele pedia algumas informações sobre a cidade. Onde comer, onde comprar, aonde ir. A conversa foi interrompida pelo GPS que anunciou que havíamos chegado ao nosso destino. Tomei coragem e olhei para fora, procurando minha nova casa. Sabia que não estávamos muito longe da praia, mas isso não me importava muito, pois nunca fui muito fã de sol, mar e areia. Tenho a pele muito clara, por isso prefiro o frio.
Drew desceu do carro e deixou a porta segurada para que eu passasse. A casa era bonita, simples, mas aconchegante. Muito diferente da antiga, porém tinha cara de lar. Olhei pro meu irmão e ele parecia empolgado. Tirou sua pequena mala do carro e foi com uma certa impaciência procurar a chave da casa com o meu pai. Assim que achou, correu e foi o primeiro a entrar na casa.
Quando entrei não reparei nos detalhes, fui direto procurar meu quarto, que era o que mais me interessava naquele lugar. Papai me viu abrindo porta por porta e veio me ajudar. Avançou dois cômodos, virou a direita, sorriu e disse:
-Aqui seu quarto Em.
Ele abriu a porta para mim e eu entrei. Tirei o casaco e o coloquei em cima da cama junto com a mochila. Olhei em volta. Tinha tudo o que eu mais precisava: uma cama grande, uma mesa pra colocar meu computador -talvez até uma TV- e minhas bagunças, uma estante na parede para guardar meus livros e um espaço na parede da cabeceira da cama para colar fotos. Aquele seria meu novo cantinho.
Desci as escadas para pegar o resto das minhas coisas e Drew me ajudou a subi-las de volta para o meu quarto. Passei o resto do dia ajudando a arrumar algumas coisas, comecei a deixar o meu quarto com a minha cara e, por incrível que pareça, ajudei minha mãe com o jantar.
Nosso primeiro jantar na casa nova. Na cidade nova. Da vida nova. Éramos nós quatro sentados numa mesa no meio de uma cozinha praticamente deserta. Gostei daquilo.
— Em — minha mãe disse —, amanhã nós vamos procurar uma escola pra você.
Concordei com uma careta.
— E depois nós vamos terminar de arrumar a casa. Tem que ser amanhã, senão eu fico louca! Eu e você.
— E o Drew? — olhei para ele.
— Eu vou ver umas coisas da minha carreira — ele sorriu e me mandou um beijo do outro lado da mesa.
Odeio quando ele faz isso; é tão irritante. É como se ele dissesse: -Eu tô numa boa e você faz o trabalho pesado!
Terminei de jantar e subi para tomar banho e finalmente dormir. Algo me dizia que nós teríamos um dia agitado.
Acordei cedo no outro dia para ir ver a escola. A noite tinha sido terrível, pois sonhei com a minha antiga vida e imediatamente senti saudades. LA decorada para o natal era incrível, realmente a cidade dos sonhos. Eu e minha mãe visitamos a Los Angeles High School e fizemos minha matrícula. Minhas aulas começariam depois do ano novo. Estava torcendo para eu conseguir me enturmar logo, precisava de novas amizades que fizessem tudo isso valer a pena.
Fomos visitar a famosa Sunset Boulevard, que me lembra a letra de alguma música, mas que eu não consigo me lembrar qual. Depois, nos encontramos com o Drew e papai para jantar. É, nosso primeiro dia foi bom e LA estava começando a me conquistar. Me sinto estranha, pois qualquer outra garota da minha idade iria adorar se mudar pra essa cidade. Mas eu me acostumei a ser diferente.
Source: Eugostodemiojo e Thanksforthemoments
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